Enem 2025: cadernos do 2º dia com matemática e ciências da natureza estão disponíveis para download

No domingo, 16 de novembro de 2025, mais de 4 milhões de estudantes encerraram o segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, aplicado em todo o território nacional. Durante cinco horas, os candidatos enfrentaram 90 questões objetivas de matemática e Ciências da Natureza — Física, Química e Biologia — numa prova que, segundo professores ouvidos pelo G1, equilibrou temas clássicos com contextos reais do cotidiano. A dificuldade, porém, não foi uniforme: trigonometria e fenômenos físicos mais abstratos surpreenderam candidatos, enquanto ecologia e bioquímica dominaram a área de ciências, com uma questão inusitada sobre um lagarto do deserto dos Estados Unidos cujo hormônio influencia a regulação da glicose — o mesmo mecanismo usado no medicamento Ozempic.

Como foi estruturada a prova do segundo dia?

A prova foi dividida exatamente como previsto desde a reformulação do exame em 2009: 90 questões, numeradas de 91 a 180. As de 91 a 135 abordaram Ciências da Natureza, com foco em ecossistemas, ciclos biogeoquímicos e aplicações biomédicas. Já as de 136 a 180 foram de matemática, incluindo funções, estatística, geometria e, como destacado por candidatos, uma série de questões de trigonometria consideradas mais complexas que os anos anteriores. Uma estudante, que preferiu não se identificar, disse à Vale FM 1013: "Eu achei as partes de trigonometria um poucos mais difíceis" — um comentário repetido por diversos grupos de candidatos nos corredores dos locais de prova.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), autarquia federal ligada ao Ministério da Educação do Brasil, mantém a estrutura padronizada desde 2009. O caderno de questões, conforme detalhado em simulado divulgado pelo Curso Objetivo em 24 de agosto de 2025, já antecipava esse formato: 90 questões, folha de rascunho, e até exemplos de cálculos com massas molares — como a questão 91 que usava valores de C: 12 g/mol, Cl: 35,5 g/mol e H: 1,0 g/mol, com respostas em kJ (177, 154, 462, 531, 620). A semelhança entre o simulado e a prova real foi notada por muitos professores.

Por que os cadernos não podem ser levados?

Um detalhe que gerou frustração entre os candidatos foi a proibição de levar o caderno de questões original ao sair da sala antes das 18h. A regra, aplicada em todos os estados, visa evitar vazamentos e garantir a integridade do exame. Mas isso deixou milhares de estudantes sem acesso imediato às questões para revisão — algo que, em anos anteriores, era permitido após o horário de encerramento. A solução? Portais como Estuda.com, Mundo Educação e Vale FM 1013 disponibilizaram, horas depois, os cadernos em PDF nas cores: CINZA, AMARELO e AZUL. Cada cor corresponde a uma versão diferente da prova, com questões reordenadas, mas conteúdo idêntico.

Gabarito extraoficial e o que esperar do oficial

Enquanto o INEP ainda não divulgou a data de publicação do gabarito oficial do segundo dia — apenas liberou o do primeiro dia —, o G1, em parceria com os professores do Curso Anglo, lançou um gabarito extraoficial com respostas comentadas. O material, acessível gratuitamente, não só indica as alternativas corretas, mas explica por que outras estão erradas, com base em referências didáticas e na análise de erros comuns. "É um guia para o estudante entender onde errou, não só para saber a resposta", afirmou o professor Carlos Mendes, coordenador da equipe de revisão do Curso Anglo.

Os especialistas apontam que o exame, apesar de desafiador, foi justo. "Não houve questões fora do programa. O que mudou foi a profundidade da contextualização. O aluno precisava entender, não apenas decorar", disse a bióloga e professora de ciências Ana Paula Ribeiro, do colégio Pedro II, em Brasília. A questão sobre o lagarto do deserto — que produz um hormônio similar ao GLP-1 — foi elogiada por integrar biologia, medicina e atualidade científica. "É o tipo de pergunta que mostra por que o Enem é mais do que um vestibular. É um reflexo da ciência que está mudando o mundo".

O que vem depois da prova?

Com o fim das provas, os candidatos agora aguardam o resultado final, previsto para janeiro de 2026. O INEP prometeu que o gabarito oficial será publicado em até 15 dias após a aplicação, seguido pela liberação das notas individuais. Os estudantes poderão usar a nota para concorrer a vagas no Sisu, bolsas no ProUni e financiamentos pelo Fies. Além disso, o INEP mantém, desde 2009, um acervo completo de provas e gabaritos em seu portal oficial (gov.br/inep), acessível para estudo e análise pedagógica — um recurso que, segundo especialistas, é subutilizado por muitos candidatos.

Como o Enem mudou desde 2009?

Antes da reformulação, o exame era aplicado em um único dia e tinha foco mais técnico. A partir de 2009, o INEP passou a estruturá-lo em dois domingos consecutivos, com redação no primeiro e as áreas de conhecimento específicas no segundo. A mudança foi crucial para reduzir o estresse e permitir uma avaliação mais profunda. Hoje, o exame não mede apenas memorização — avalia competências, raciocínio lógico e conexão com a realidade. "O aluno que só decorou fórmulas, sem entender o contexto, vai se perder. Quem estudou com propósito, com curiosidade, tem vantagem", afirma o professor de matemática Luiz Fernando, que atua há 18 anos em preparatórios em São Paulo.

A prova de 2025 reforça essa tendência. Questões que misturam física e biologia, como a do hormônio do lagarto, ou que exigem interpretação de gráficos de biodiversidade, mostram que o Enem está cada vez mais próximo das exigências da universidade e do mercado de trabalho. "A ciência não vive em isolamento. E o exame finalmente entendeu isso".