Censo Escolar 2024 mostra queda de 44,3 mil matrículas no RS e metas do PEE violadas

Quando Censo Escolar 2024 divulgou seus números, a impressão foi de que o Rio Grande do Sul (RS) estava literalmente perdendo alunos. O levantamento, coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), apontou uma redução de 44,3 mil matrículas na educação básica, sinalizando que o estado está longe de cumprir as metas do Plano Estadual de Educação (PEE 2015‑2025). Essa queda tem reflexos diretos nas famílias, nos professores e na economia regional, já que menos estudantes significa menos futuro profissional para o estado.
Contexto histórico do PEE e da cobertura educacional no RS
O PEE 2015‑2025 estabeleceu metas ambiciosas: ampliar o acesso à Educação Integral, reduzir a evasão e dobrar as vagas de Educação Profissional. Em 2015, o governo estadual, liderado então pelo então Governador Tarso Genro, lançou um plano que prometia 1,5 milhão de matrículas adicionais até 2025. Na época, a expectativa era alta; a maioria dos municípios acreditava que a onda de investimentos em laboratórios, bibliotecas e internet seria suficiente para mudar o cenário.
Mas o caminho mostrou-se pedregoso. Trocas de governo, reformas curriculares sem consenso e a falta de continuidade nas políticas públicas corroeram parte do entusiasmo inicial. O que era para ser um avanço constante acabou se transformando em um retrocesso latente.
Dados alarmantes do Censo Escolar 2024 no RS
O Censo Escolar 2024 trouxe números que assustam:
- Queda de 4 % nas matrículas da Educação Profissional, enquanto o Brasil registrou crescimento de 6,7 % no mesmo período.
- Redução quase de 8 mil vagas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede estadual em 2024.
- Desde 2019, a EJA perdeu 46 827 matrículas, uma retração de 65,3 %.
- O RS ficou em segundo lugar na pior oferta de Educação Integral no país.
Essas estatísticas são mais que números: elas traduzem salas vazias, professores sem turmas e adolescentes que abandonam os estudos para trabalhar. O impacto se sente nas comunidades rurais, onde a escola ainda é o principal ponto de socialização.
Causas apontadas para o retrocesso
Especialistas apontam três grandes blocos de motivos:
- Descontinuidade de políticas públicas: a alternância de gestões fez com que projetos de longo prazo fossem abandonados ou reformulados sem avaliação de resultados.
- Precarização da carreira docente: o excesso de professores temporários, salários defasados e falta de formação continuada desmotivam os profissionais, que acabam migrando para o setor privado ou abandonando a profissão.
- Infraestrutura inadequada: muitas escolas ainda não contam com laboratórios, acesso à internet de qualidade, bibliotecas ou espaços esportivos, limitando o que pode ser oferecido aos estudantes.
Um relatório interno do Ministério da Educação (MEC), assinado pelo Rogério Marinho, ministro da Educação, reforça que a falta de investimentos estruturais é “um entrave decisivo para a melhoria dos indicadores de aprendizagem”.

Reações de gestores, professores e especialistas
Em Porto Alegre, a secretária de Educação do estado, Mariana Gondim, afirmou que o estado está “urgentemente precisando de um plano de ação que vá além de números, mas que inclua voz dos professores e estudantes”.
Já o diretor de uma escola da zona rural de Santa Maria, José Carlos da Silva, contou que a falta de laboratório de química fez com que ele reduzisse a carga horária de ciências, prejudicando o preparo dos alunos para o vestibular.
Do lado da academia, a professora da UFPEL Ana Lúcia Oliveira, especialista em políticas públicas educacionais, destacou que "a queda da EJA indica que políticas de inclusão ainda não são efetivas; precisamos de incentivos reais, como bolsas e transporte, para que adultos retornem às salas de aula".
Próximos passos: Censo 2025 e retificações
Enquanto o debate se intensifica, o Censo Escolar 2025 já está em fase de coleta preliminar. A portaria MEC n.º 650/2025, publicada no Diário Oficial da União em 23 de setembro, abre prazo até 23 de outubro para que gestores de estados, DF e municípios confirmem ou corrijam os dados enviados.
O Sistema Educacenso, reformulado com questionários mais intuitivos, permite que escolas atualizem informações sobre parcerias, convênios e recursos tecnológicos. Essa nova rodada de dados tem potencial de revelar se o estado vai conseguir reverter a tendência ou se continuará em declínio.
Para os pais de alunos da EJA, a data limite representa uma oportunidade de pressionar as secretarias a manter as vagas abertas e a criar incentivos que realmente atraiam aqueles que deixaram a escola há anos.

O que isso significa para o futuro da educação no RS?
Se nada mudar, o estado pode enfrentar um déficit de profissionais qualificados nos próximos dez anos, o que impactaria setores como a indústria, a tecnologia e o agronegócio. Por outro lado, uma resposta coordenada – investimentos em infraestrutura, valorização docente e políticas de retificação de matrículas – pode transformar o quadro, colocando o RS de volta no caminho das metas do PEE.
O que fica claro, porém, é que os números do Censo não mentem; eles exigem ação rápida e planejada. Cabe aos gestores, ao MEC e à sociedade civil transformar esses dados em soluções concretas antes que a próxima geração sofra ainda mais.
Perguntas Frequentes
Como a queda de matrículas afeta o mercado de trabalho no RS?
Menos estudantes significa menos profissionais qualificados nos próximos anos, reduzindo a oferta de mão‑de‑obra especializada para indústrias, tecnologia e agronegócio. O efeito pode ser um aumento da competitividade por vagas e maior dependência de trabalhadores de outras regiões.
Quais são as principais causas apontadas para o retrocesso da EJA?
A falta de incentivos financeiros, transporte inadequado, ausência de vagas em horário flexível e a precarização da carreira docente são os fatores mais citados. Sem medidas de apoio, adultos encontram mais barreiras que motivação para retornar à escola.
O que o MEC espera que os gestores façam até 23 de outubro?
A portaria 650/2025 determina que gestores verifiquem os números enviados ao Educacenso, corrijam eventuais erros e enviem as retificações até a data limite. Essa etapa é crucial para garantir a precisão dos indicadores que orientam políticas públicas.
Quais são as propostas de especialistas para melhorar a infraestrutura das escolas?
Investir em laboratórios de ciências, ampliar o acesso à internet de alta velocidade, criar bibliotecas comunitárias e garantir espaços esportivos são medidas apontadas como prioritárias. Além disso, programas de manutenção preventiva evitam a degradação dos recursos já existentes.
Como a população pode acompanhar o andamento do Censo Escolar?
Os dados são publicados no portal do INEP e podem ser consultados por estado, município e escola. A sociedade civil pode usar esses números para pressionar autoridades a implementar políticas corretivas.
Debora Sequino
outubro 7, 2025 AT 04:10É inaudível a continuidade das políticas públicas no RS, onde a cada gestão se anulam os esforços dos predecessores!!! A população vê promessas de investimentos em laboratórios e internet serem transformadas em meras palavras ao vento, e ainda assim os responsáveis permanecem impunes; a moralidade de quem decide o futuro da educação parece estar em coma! Não é surpresa que a evasão escolar continue crescendo, pois sem estrutura básica nem salário digno, os professores abandonam as salas e os alunos seguem caminhos mais lucrativos, porém menos educativos... O PEE virou um prato de sopa frio, servido sem tempero e sem gosto para quem realmente precisa!